Passo a explicar. Para tal, servir-me-ei das palavras de Fernando Savater, filósofo e grande pedagogo espanhol, no seu livro "O Valor de Educar" [pp.52-54]. São elas que melhor dirão dos objectivos & intenções deste blogue. Ei-las:
«Em linhas gerais, a educação, orientada para a formação da alma e para a transmissão do respeito pelos valores morais e patrióticos foi sempre considerada de um nível superior ao da instrução, destinada a dar a conhecer competências técnicas ou teorias científicas. (...)
Em contraposição, educação versus instrução, parece hoje notavelmente obsoleta e bastante enganadora. (...). Sucede ainda que separar a educação da instrução se mostra não só indesejável, mas igualmente impossível, uma vez que não se pode instruir sem educar e vice-versa. Como poderemos transmitir valores morais ou de cidadania sem recorrermos a informações históricas, sem termos em conta as leis em vigor e o sistema de governo estabelecido, sem falarmos de outras culturas e países, sem reflectirmos, por elementarmente que seja, sobre a psicologia e a fisiologia humanas ou em empregarmos algumas noções de informação filosófica? E como poderemos instruir alguém em matéria de conhecimentos científicos, se não lhe inculcarmos o respeito por valores tão humanos como a verdade, a exactidão ou a curiosidade?». Ah e também de Pitágoras «eduquemos as crianças e não será necessário castigar os homens»

Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana" (Amicis, Edmondo in Cuore)

domingo, 5 de março de 2017

EDUCAÇÃO&FORMAÇÃO: Dois textos ...

... obrigatórios, porque oportunos e_____________. Este de Nara Rúbia Ribeiro:


Todo pai ou mãe, ao ver-se na condição de esperar pela chegada de um filho, passa a observar com outros olhos o mundo que o rodeia. Lembro-me que durante a gravidez repetia constantemente, enquanto ouvia os noticiários e acariciava a minha barriga, os versos de Sophia Andresen: “Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo”…Essa dolorosa constatação da fragilidade de tudo o que nos cerca muitas vezes faz com que passemos a confundir esse amor infinito com apego demasiado. Na ilusão de que possamos protegê-los da dor e das angústias dos nossos tempos, passamos a cercar os nossos filhos de cuidados excessivos, presentes desnecessários – não raro meros caprichos – e nem paramos para refletir se os nossos gestos e as nossas palavras estão a forjar homens e mulheres resilientes e nobres.Na ânsia do “ser para eles”, esquecemo-nos de “ser com eles”. Incitar-lhes, na convivência, a força, a determinação, a autonomia, a reflexão ética.Içami Tiba, em seu maravilhoso livro “Quem Ama, Educa”, nos dá uma bela orientação sobre a arte da paternidade:
“A arte de ser mãe e pai é educar os filhos para que se tornem afetivamente autônomos, financeiramente independentes e cidadãos éticos do mundo. Quanto mais competentes educadores os pais forem, menos necessários se tornarão eles para os filhos, e o vínculo afetivo será mantido eternamente em nome da saudável integração relacional.”Em face dessas palavras, mesmo diante da nossa impotência de dar aos nossos filhos o mundo que gostaríamos de lhes oferecer, pasamos a compreender que podemos entregar ao mundo humanos que sintam preparados para enfrentar as fragilidades dos “tempos líquidos” em vivemos. E que não nos sintamos inúteis, quando desnecessários. Afinal, é para o mundo, e não para nós mesmos, que criamos e educamos os nossos filhos.
E este “Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”. Zygmunt Bauman

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar. O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo. Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida. Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra. O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.

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