Passo a explicar. Para tal, servir-me-ei das palavras de Fernando Savater, filósofo e grande pedagogo espanhol, no seu livro "O Valor de Educar" [pp.52-54]. São elas que melhor dirão dos objectivos & intenções deste blogue. Ei-las:
«Em linhas gerais, a educação, orientada para a formação da alma e para a transmissão do respeito pelos valores morais e patrióticos foi sempre considerada de um nível superior ao da instrução, destinada a dar a conhecer competências técnicas ou teorias científicas. (...)
Em contraposição, educação versus instrução, parece hoje notavelmente obsoleta e bastante enganadora. (...). Sucede ainda que separar a educação da instrução se mostra não só indesejável, mas igualmente impossível, uma vez que não se pode instruir sem educar e vice-versa. Como poderemos transmitir valores morais ou de cidadania sem recorrermos a informações históricas, sem termos em conta as leis em vigor e o sistema de governo estabelecido, sem falarmos de outras culturas e países, sem reflectirmos, por elementarmente que seja, sobre a psicologia e a fisiologia humanas ou em empregarmos algumas noções de informação filosófica? E como poderemos instruir alguém em matéria de conhecimentos científicos, se não lhe inculcarmos o respeito por valores tão humanos como a verdade, a exactidão ou a curiosidade?». Ah e também de Pitágoras «eduquemos as crianças e não será necessário castigar os homens»

Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana" (Amicis, Edmondo in Cuore)

domingo, 14 de junho de 2015

ENSINO: Aprender a pensar

Tempos houve em que era preciso saber na ponta da língua os rios, as montanhas e os caminhos-de-ferro de Portugal. Decorava-se e ficavam para a vida, essas listas que muitas vezes de pouco serviam. Mas era essa a matéria importante, aquilo que todos os alunos da quarta classe - uma minoria que ia à escola e sabia ler e fazer contas - tinham de saber. Nos últimos 50 anos, a taxa de analfabetismo passou de um terço da população portuguesa para um valor residual. O ensino evoluiu, tornou-se obrigatório estudar e introduziram-se matérias úteis à vida e à capacidade de desenvolver raciocínios. Mas a forma de avaliar esses conhecimentos pouco mudou: o que continua a contar é a capacidade de decorar e de dar as respostas que os examinadores esperam obter às perguntas que propõem. Agora, porém, deu-se um passo no caminho certo. Não é tudo, mas é um começo. Nuno Crato decidiu fazer uma alteração aos critérios de avaliação dos exames nacionais que arrancam amanhã: quem der uma resposta que não esteja contemplada nos planos de resolução dos testes mas que seja válida e tenha uma boa base de argumentação terá a merecida cotação. E essa opção será acrescentada às bases de correção nacionais. Parece óbvio, mas a verdade é que, até agora, se não estava na chave proposta, e por muito espírito crítico e inteligência que demonstrasse, a resposta simplesmente contava zero. A correção era estanque, em vez de apenas servir de guideline. Privilegiar a capacidade de pensar, de argumentar, de encontrar novos caminhos para chegar a soluções corretas é o que se propõe. E é precisamente esse o caminho que devíamos todos incentivar as crianças a percorrer. A Finlândia, reconhecida por ter um dos melhores sistemas de educação do mundo e ocupar posições de topo na matemática, nas línguas e na ciência nos rankings da OCDE, tem em curso a maior reforma educativa de sempre. O seu objetivo é acabar com o ensino partido por disciplinas rígidas e implementar uma educação por tópicos. A União Europeia, por exemplo, será ensinada como um todo, em todas as suas vertentes: económica, cultural, geográfica, histórica, linguística. E os métodos de ensino, em vez de moldarem e espartilharem a forma de pensar das crianças, privilegiam a utilidade e o valor do conhecimento, do raciocínio, do espírito crítico. Os finlandeses querem ensinar os seus miúdos a pensar, a entender como funciona o mundo e a saber onde e como procurar aquilo que lhes pode ser útil no futuro. Ainda estamos muito longe deste paradigma. Mas valorizar o raciocínio das crianças é um passo de grande valor no caminho para lá chegar. Só é preciso que professores e examinadores saibam acompanhá-las, reconhecer e incentivar essas novas premissas. (professores e examinadores não! Ministério da Educação e Cultura em particular e sociedade em geral sim!!! - penso e digo eu e faço-o com toda a experiência, conhecimento, logo convictamente.)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

ENSINO/EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO: Os alunos indisciplinados não gostam de teorias


11/06/2015 - 05:49
É obrigação de todos nós contribuir para o combate à indisciplina com medidas concretas, pois isso será prenúncio de maior sucesso para os nossos jovens.
A reboque dos últimos episódios de violência juvenil a que assistimos até à exaustão, sobretudo pelas imagens incessantemente repetidas dos atos cobardes e bárbaros que adolescentes infligiram a outros colegas adolescentes (ocasionando, num dos casos, a perda de uma vida), pretendo refletir sobre indisciplina em meio escolar, não relacionando com os casos acima indicados, que, lamentavelmente, querem colar à instituição escola.
Infelizmente, para alguns, a escola serve para tudo, até para imputar culpas que não são dela. Principalmente quando se trata de algo pretensamente negativo, referente à escola pública… está o circo montado!
Não tenho dúvidas de que o fenómeno da indisciplina em meio escolar é antigo; acontece não só na sala de aula mas nos restantes espaços e até no exterior (por exemplo, em visitas de estudo…). Esta ocorre no ensino não superior e superior, na escola pública e na escola privada, etc.. Acredito também que se em algumas instituições de ensino este fenómeno é menos expressivo, noutras é um problema bem presente e que urge combater.
Não querendo culpabilizar seja quem for, mas também não pretendendo desculpabilizar, julgo que todos devemos, nos respetivos patamares de responsabilidade, encontrar soluções que, em muitos casos, são mais coletivas e menos individuais.
Em primeiro lugar, as famílias devem envolver-se mais na Educação dos seus filhos, assistindo-se a um fraco comprometimento de quem é, em primeira instância, responsável pelo futuro das crianças. Os pais e encarregados de educação nem sempre assumem disponibilidade para o acompanhamento e, em algumas situações, são coniventes com atitudes dos mesmos, pondo em causa relatos que lhes chegam dos professores, quantas vezes promovendo até uma acareação entre as partes! “Estes filhos são bem melhores que os pais!”, “Os alunos não têm valores em casa…” e “Os pais não reconhecem que os filhos praticam atos de indisciplina” são frases escutadas um pouco por todo o lado e, embora não possamos generalizar (há muitos pais e encarregados de educação que não compactuam com atos de indisciplina dos seus filhos e fazem parte da solução e nunca do problema), teremos de estar vigilantes e criar soluções para resolver a questão. O próprio movimento associativo de pais queixa-se da não comparência destes às reuniões ou assembleias. Reconheço que a crise que atravessamos ou estamos a atravessar agudiza a situação, mas não pode ser o bode expiatório.
Alguns alunos não sabem estar numa escola. A falta de perspetivas de futuro contribui bastante para aquele espaço ser para “matar o tempo”, esquecendo-se de que prejudicam os outros quando, em contexto de sala de aula, estão permanentemente a desestabilizar. Dir-se-ia que gostam da escola, mas nem tanto da sala de aula. As relações interpessoais dos alunos são complexas e, em muitas situações, resolvem-se à pancada! A transição do 1.º para o 2.º ciclo (4.º para 5.º ano de escolaridade) é dramática, e é no 5.º ano de escolaridade (a exemplo de anos de início de ciclo) que se registam mais ocorrências disciplinares).
Também julgo que a sociedade pode ser potenciadora da indisciplina em meio escolar e até da violência que existe no dia-a-dia. Quando se escutam pessoas, de muita responsabilidade, que acham quase normal a atuação de adeptos de um clube a retirarem de um armazém da equipa da casa pertences que não são deles, é querer legitimar o indefensável, caindo em descrédito. Existindo muitos outros, este é um mero exemplo, recente, de imagens que todos visionaram; mas foram ainda mais chocantes as declarações provenientes de uma defesa improvável. A sociedade não pode defender atos de vandalismo ou crimes e as pessoas responsáveis devem referi-lo, sob pena de os nossos jovens estarem legitimados para o fazerem também. Que exemplo cívico dão os governantes e deputados eleitos, em algumas discussões muito acaloradas na Casa da Democracia?
As retenções escolares aliadas a uma deficiente preparação dos alunos são dois fatores potenciadores de indisciplina. Estou convicto de que a efetiva promoção do sucesso pode ser a chave principal no combate ao problema. Não entendo por que razão o 1.º Ciclo não tem ainda um ensino mais personalizado, com turmas pequenas (22 alunos no máximo). A coadjuvação e os apoios educativos em contexto de sala de aula neste nível de ensino pode ser outra solução.
Não fará sentido investir, por exemplo, parte dos 600.000.000 de euros que anualmente o Estado desperdiça com as 150.000 reprovações, em apoio efetivo ao 1.º Ciclo? Sabemos que é um ciclo essencial, pois é ali que se adquirem as bases do conhecimento, mas temos medo de dar um passo decisivo e muito importante para parte da solução. Porquê? Na verdade, alunos que vão aprovando com dificuldades nas aprendizagens são alunos que mais tarde ou mais cedo contribuirão para aumentar o insucesso que, como sabemos, é auto-estrada para a indisciplina.
Outros focos de indisciplina são os provenientes da constituição dos mega agrupamentos, da desvalorização da profissão docente, da extensão do currículo e elevado número de disciplinas, da carga letiva imensa, do uso de métodos de ensino e modelos de aprendizagem ultrapassados, da resistência ao uso das novas tecnologias nas salas de aula (é essencial a tutela apostar na formação contínua dos seus profissionais), das matérias desinteressantes, da falta de recursos (por exemplo. equipas multidisciplinares, assistentes operacionais de carreira), da fraca envolvência dos alunos na discussão e criação de documentos estruturantes da escola (Projeto Educativo, Regulamento Interno…), etc..
Mais do que teorias que vão entretendo quem, muitas vezes, só sabe dizer mal, é obrigação de todos nós contribuir para o combate à indisciplina com medidas concretas, pois isso será prenúncio de maior sucesso para os nossos jovens.
Professor/director

 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

ENSINO: Exames

O direito à infância
http://www.jn.pt/opiniao/default.aspx?content_id=4614304
A Má Educação
http://pagina1.sapo.pt/detalhe.aspx?fid=370&did=190044&number=12771
Novos dados reforçam dúvidas sobre eficácia dos exames nacionais
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?did=190040
Para as senhoras d'O direito à infância" e d'A Má Educação" e, já agora, para o senhor "ex-MEC", recomendável, aconselhável e obrigatória é, também, a leitura desta opinião e ... se não fôr suficiente leiam mais esta. Em alternativa ou cumulativamente, aplique-se-lhes a estadia d'um mês, ou mesmo d'uma semana numa escola daquelas... que são todas. Numa escola não, numa sala d'aula.
- Essa agora, porquê?
- Simplesmente e não é pouco, porque, pense-se ("para bom entendedor, meia palavra basta"), se queremos conhecer o país real é na escola que devemos estar, qual retrato da sociedade, tal&qual!
- Como assim?
- Pelo empenhamento&comportamento dos seus discentes, (ante)vemos o passado, o presente e o futuro (não são os jovens os homens de amanhã?).
 

terça-feira, 2 de junho de 2015