Passo a explicar. Para tal, servir-me-ei das palavras de Fernando Savater, filósofo e grande pedagogo espanhol, no seu livro "O Valor de Educar" [pp.52-54]. São elas que melhor dirão dos objectivos & intenções deste blogue. Ei-las:
«Em linhas gerais, a educação, orientada para a formação da alma e para a transmissão do respeito pelos valores morais e patrióticos foi sempre considerada de um nível superior ao da instrução, destinada a dar a conhecer competências técnicas ou teorias científicas. (...)
Em contraposição, educação versus instrução, parece hoje notavelmente obsoleta e bastante enganadora. (...). Sucede ainda que separar a educação da instrução se mostra não só indesejável, mas igualmente impossível, uma vez que não se pode instruir sem educar e vice-versa. Como poderemos transmitir valores morais ou de cidadania sem recorrermos a informações históricas, sem termos em conta as leis em vigor e o sistema de governo estabelecido, sem falarmos de outras culturas e países, sem reflectirmos, por elementarmente que seja, sobre a psicologia e a fisiologia humanas ou em empregarmos algumas noções de informação filosófica? E como poderemos instruir alguém em matéria de conhecimentos científicos, se não lhe inculcarmos o respeito por valores tão humanos como a verdade, a exactidão ou a curiosidade?». Ah e também de Pitágoras «eduquemos as crianças e não será necessário castigar os homens»

Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana" (Amicis, Edmondo in Cuore)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

ENSINO: Profissão Professor

Os dias que (não) passam nas escolas 

Ana Luísa Melo   -  
O “pensar” dos professores

"Vinha cansada. Era a minha quarta e última aula da tarde, tinha sido exigente e a energia despendida imensa. A caminho da sala dos professores, o barulho e a agitação normais no intervalo de uma escola muito grande. 
Cheguei à sala dos professores, sentei-me e deixei-me ficar a descansar. Incapaz de conversar, incapaz de falar, fui recuperando o folego. Tocou. Os professores saíram e eu ainda fiquei.
São poucos os que sabem o esforço que faz um professor quando dá uma aula. O desgaste da profissão docente é muito específico. Ensinar e fazer aprender não são ações funcionais e mecânicas; são atividades em que a teoria e a ação prática se sustentam mutuamente num esforço muito empenhado e dirigido. 

Se por um lado, numa aula, existe uma atividade física intensa – anda-se imenso, fala-se muito, está-se muito tempo em pé, gesticula-se, dramatiza-se, a verdade é que existe um outro lado, menos visível para os que de um modo simplista e redutor olham para a docência: é que, enquanto desenvolvem todas estas atividades, os professores estão, também, a “pensar”. E o “pensar” dos professores é, igualmente, um esforço. 
Os pares sabem-no; mas, para grande parte das pessoas que levianamente olham para esta profissão, é um esforço que não se apresenta como tal. Para esses, esse esforço é inexistente. Não estou a referi-me ao tempo que as aulas levam – demoram e custam – a preparar. 

Não é a esse tempo (que também é muito) que me estou a referir. 
Estou a referir-me ao “pensar” enquanto se faz tudo o que antes referi, ao esforço do pensar “enquanto” a aula acontece. E tudo acontece quase em simultâneo. Uma aula é complexidade. É expor, raciocinar, recordar, mobilizar, estruturar, didatizar, selecionar, optar, facilitar, promover, exemplificar, ouvir, intuir, compreender, escutar, ponderar, conjugar, avaliar, ler, ditar…, um sem número de ações que, apesar de não serem visíveis ao simplismo do senso comum, são, verdadeiramente, muito exigentes. E são ações que, na sua consecução, convergem no espaço-tempo de uma só aula. 

Mas só aqueles que são professores o sabem tão bem. Sabem-no de “experiência feita”, de vida despendida, gasta em muitas salas de aula. Gasta-se tudo. Gasta-se de tudo ao mesmo tempo. E fica-se vazio quando nada se gastou. 
Quando isso acontece é porque a Aula não aconteceu."  



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