Passo a explicar. Para tal, servir-me-ei das palavras de Fernando Savater, filósofo e grande pedagogo espanhol, no seu livro "O Valor de Educar" [pp.52-54]. São elas que melhor dirão dos objectivos & intenções deste blogue. Ei-las:
«Em linhas gerais, a educação, orientada para a formação da alma e para a transmissão do respeito pelos valores morais e patrióticos foi sempre considerada de um nível superior ao da instrução, destinada a dar a conhecer competências técnicas ou teorias científicas. (...)
Em contraposição, educação versus instrução, parece hoje notavelmente obsoleta e bastante enganadora. (...). Sucede ainda que separar a educação da instrução se mostra não só indesejável, mas igualmente impossível, uma vez que não se pode instruir sem educar e vice-versa. Como poderemos transmitir valores morais ou de cidadania sem recorrermos a informações históricas, sem termos em conta as leis em vigor e o sistema de governo estabelecido, sem falarmos de outras culturas e países, sem reflectirmos, por elementarmente que seja, sobre a psicologia e a fisiologia humanas ou em empregarmos algumas noções de informação filosófica? E como poderemos instruir alguém em matéria de conhecimentos científicos, se não lhe inculcarmos o respeito por valores tão humanos como a verdade, a exactidão ou a curiosidade?». Ah e também de Pitágoras «eduquemos as crianças e não será necessário castigar os homens»

Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana" (Amicis, Edmondo in Cuore)

sábado, 14 de janeiro de 2012

MAL EDUCADOS OU EDUCADOS MAL

Hoje em dia, entre os discursos mais comuns nas actuais gerações de educadores, encontramos questões como: “As crianças, hoje, não sabem o que é educação!”; “Os adolescentes estão vazios de valores, não têm referências, perderam a noção do certo e do errado”. Há, também, o desrespeito pela autoridade dos professores e dos pais. Então ouvimos: “O meu filho não estuda quando eu mando; não consigo que ele faça osTPCs! Não consigo que vá às aulas de apoio!!!”; “O meu filho só quer ver televisão, jogar  playstation e estar no MSN com os amigos. Não consigo fazer nada dele!!!”.“A minha filha, de quatro anos, está demais! Nunca me deixa ver os meus programas na TV e tenho de esperar que vá para a cama, mas nunca consigo que seja antes das 22h!”.“O meu filho anda no mau caminho!Não consigo que ele deixe aquelas companhias!”. Mas também há pais que dizem,com bastante orgulho: “Eu não me preocupo com o meu filho! Só tem 14 anos, mas já trata bem de si! Sai à noite, organiza as boleias com os amigos, ele sabe bem o que fazer! Posso dormir descansado!”. Encontramos, ainda, casos de gravidez precoce, levando tantas meninas-crianças a experimentar o dissabor do aborto ou de uma maternidade vivida no mundo da fantasia. Muitos desabafos dos educadores de hoje parecem discursos repetidos das gerações anteriores pois, na realidade, o conflito geracional faz parte da história da humanidade. Mas, a verdade é que, actualmente, são diversas as situações que os educadores descrevem como verdadeiros caos na vida das crianças. As lamentações do mundo adulto sobre o mundo infanto-juvenil são tantas que nos merecem uma reflexão. Se observarmos bem, num grande número de famílias percebemos que são os filhos, desde pequenos, que têm a “batuta” na mão da gestão dos passos da família, possuem poder de decisão sobre a sua vida e são-lhes dadas responsabilidades que não têm condições de assumir. As crianças parecem viver a ambivalência prazer-dor, divididas entre o poder oferecido pelos pais, que lhes parece excelente, e o vazio de uma vida onde estão sozinhas na gestão das escolhas. A dificuldade na escolha, pela ausência de limites, desenvolve nas crianças uma angústia que Freud refere ser fruto do “desamparo a que a criança é sujeita”. Por outro lado, Jean-Paul Sartre defende que o Homem se sente angustiado “em saber que é senhor de seu destino”. A questão parece assentar, basicamente, no papel que hoje os adultos têm na sociedade e nas famílias: onde e como estão os adultos na vida destas crianças que tanto criticam? Que modelos constituem para que mereçam ser seguidos? Que linhas orientadoras lhes dão? De que modo lhes mostram que o mundo é gerido por regras e ordem? Como gerem a sua própria vida? Que presença afetiva têm nas ávidas necessidades das crianças? O que lhes ensinam sobre como dar e receber afectos? Como lhes ensinam a assumir responsabilidades pelos actos praticados na vida, sem recorrer ao “chicote” por falta de habilidade para estabelecer diálogos? Como gerem o trinómio tempo-quantidade-qualidade na relação com as crianças? Mais do que maus modelos, assiste-se à crise da ausência de modelos. Cada vez mais encontramos, nas famílias, pais demasiado ausentes. O trabalho envolve-os demasiado, rouba-lhes horas de família e, quando estão, em muitos casos não têm paciência para dar resposta às necessidades dos filhos. As ausências da família compensam-se com a satisfação exagerada de bens materiais, com o excesso de permissividade ou, pelo contrário, com uma presença autoritária, ou, ainda, com uma proteção desmesurada. Por ser um tema que a todos atinge, porque somos pais ou desempenhamos um papel de educador cívico (e todos o devemos ter!), são vários os autores que têm escrito para ajudar a bem educar. Algumas propostas de leitura vão para AldoNaouri, com o seu já best-seller “Educar Filhos – uma urgência nos dias que correm”, e “Inteligência Emocional na Educação”, de John Gottman e Joan Declaire. Não precisamos de muito tempo, mas precisamos de tempo bom.
ALEXANDRA MELO
                                                                                                                                                                              
Psicóloga do Serviço de Psicologia

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