Passo a explicar. Para tal, servir-me-ei das palavras de Fernando Savater, filósofo e grande pedagogo espanhol, no seu livro "O Valor de Educar" [pp.52-54]. São elas que melhor dirão dos objectivos & intenções deste blogue. Ei-las:
«Em linhas gerais, a educação, orientada para a formação da alma e para a transmissão do respeito pelos valores morais e patrióticos foi sempre considerada de um nível superior ao da instrução, destinada a dar a conhecer competências técnicas ou teorias científicas. (...)
Em contraposição, educação versus instrução, parece hoje notavelmente obsoleta e bastante enganadora. (...). Sucede ainda que separar a educação da instrução se mostra não só indesejável, mas igualmente impossível, uma vez que não se pode instruir sem educar e vice-versa. Como poderemos transmitir valores morais ou de cidadania sem recorrermos a informações históricas, sem termos em conta as leis em vigor e o sistema de governo estabelecido, sem falarmos de outras culturas e países, sem reflectirmos, por elementarmente que seja, sobre a psicologia e a fisiologia humanas ou em empregarmos algumas noções de informação filosófica? E como poderemos instruir alguém em matéria de conhecimentos científicos, se não lhe inculcarmos o respeito por valores tão humanos como a verdade, a exactidão ou a curiosidade?». Ah e também de Pitágoras «eduquemos as crianças e não será necessário castigar os homens»

Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana" (Amicis, Edmondo in Cuore)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Acerca da desmotivação dos alunos

De uma vez por todas se caia na realidade e se deixe de pedir aos
professores aquilo que não lhes compete. Estratégias para isto,
estratégias para aquilo; lidar com a indisciplina, lidar com a
desmotivação. Aos professores não se deve pedir que arranjem
estratégias para resolver esses problemas, pois isso é admitir que
eles são situações normais, correntes e com tendência a perpetuar-se.
Simplesmente não se pode admitir que eles existam como norma.
A escola pública oferece um ensino gratuito (gratuito!, à exceção da
aquisição do material escolar), onde os alunos podem usufruir de
refeições a um preço pouco mais do que simbólico, em regra com bons e
ótimos equipamentos e professores. Os alunos mais carenciados têm
comparticipação parcial ou total na aquisição dos seus materiais, nas
refeições e nos transportes. De um modo geral os programas são
adequados às faixas etárias e ao tipo de sociedade que é o nosso.
Estas condições por si só não são mais do que satisfatórias para que
os alunos e as suas famílias se sintam naturalmente motivados? De que
raio de motivação extra precisam os alunos?
Em África, na Ásia e na América Latina há centenas de milhões de
crianças e jovens que frequentam escolas (os que têm essa sorte) em
condições miseráveis. E aí muitos deles estão bem mais motivados do
que os nossos. Serão os seus professores melhores do que nós?
Possuirão eles as tais estratégias mágicas que nós, tecnologicamente
apetrechados, não conseguimos vislumbrar?
É mais do que evidente que a motivação é uma treta quando colocada nas
mãos dos professores, mas uma realidade quando olhamos para os sítios
onde reside a sua génese:
na sociedade em geral, nas famílias, em quem
nos governa e na legislação obtusa que se produz
. Por isso, os
professores não têm que motivar quando não há motivos de origem
pedagógica para o tipo de desmotivação com que deparam.
A mesma reflexão deve ser feita em relação à indisciplina, que também
não é um problema que o professor tenha que resolver. A indisciplina é
uma questão que, simplesmente e em circunstâncias normais, não deveria
existir! Em circunstâncias normais, para resolver problemas pontuais
de indisciplina o professor deveria precisar apenas de uma palavra:
"Rua!"
Se houver comportamentos desadequados nas salas de espera e nos
gabinetes médicos dos hospitais serão os médicos a resolvê-las? Se a
mesma coisa acontecer numa repartição de finanças são os funcionários
que vão resolver? Num restaurante, num meio de transporte, numa sala
de espetáculos...?
Ora, o professor não tem que motivar nem disciplinar, tem apenas que
ensinar, que é aquilo que se lhe pede cada vez menos. Nessas matérias
peçam-se, pois, responsabilidades a quem realmente as tem,
senão daqui
a 50 anos quem cá estiver estará ainda a falar do mesmo.

António Galrinho

Mas quem é este senhor? Perguntar-se-á.
Pois bem, entre as várias apresentações possíveis, aqui vai uma:
http://www.luso-poemas.net/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=2878

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